"Moro na cidade de Aracaju-SE tenho 68 anos, viúva, aposentada por invalidez desde 1982, devido a um infarto. Sou portadora de marcapasso com troca regular a cada 5 anos. Em 1978, na cidade de Salvador-BA, meu esposo foi assaltado por três marginais recebendo três tiros dos assaltantes.
Foi socorrido e levado para um hospital público submetendo-se a uma cirurgia e precisou de transfusão de sangue.
Em 1991 perdi meu esposo por causa da AIDS, adquirida pela transfusão de sangue realizada em 1978.
Por conta disso, fiz o teste de HIV, por solicitação médica, dando positivo. Quase enlouqueci, fui ao fundo de poço. Fiz tratamento psiquiátrico por 6 anos.
Formada em pedagogia, pessoa dinâmica, secretaria executiva de uma grande empresa, tinha uma situação financeira boa, carro e casa própria, assisti a fatalidade do HIV levar tudo que construí.
Em 1991, iniciei o tratamento com coquetéis e venho sendo acompanhada por excelentes profissionais do serviço de saúde do estado de Sergipe.
Por todos esses anos, não tive doenças oportunistas, porém sofro muito com os efeitos colaterais. Fui acometida por perda parcial dos movimentos dos membros inferiores, que exige uma cirurgia, que não posso submeter-me devido à debilitação do meu organismo.
Vivo com HIV há 19 anos, peço a Deus todos os dias que ilumine os cientistas na descoberta de uma nova medicação que diminua os efeitos colaterais, pois já fui submetida à cirurgia de lipodistrofia de gibo extraindo 800g de gordura, sem melhorar a aparência. Faço preenchimento facial, como forma de conter a lipodistrofia e cuidar da minha auto-estima.
Sinto muitas dores nas pernas, não tenho equilíbrio, por conta disso caí quatro vezes, fraturei 6 costelas e perfurei o pulmão. Após esse acontecimento passei a andar de bengala.
Em maio de 2008 tive pneumonia e fiquei internada por 30 dias, correndo risco de morte. Graças a Deus eu fui abençoada e consegui sobreviver para continuar contando a minha historia, participo de ONGs, onde transmito aos jovens a minha experiência de vida e coragem para lutar. Mensalmente participo das reuniões do "GRUPO DE ADESÃO ESPERANÇA", que realiza grandes trabalhos, levando a portadores do vírus HIV a esperança de viver melhor e a possibilidade de enfrentar o preconceito, mais maléfico do que o próprio vírus.
Tenho duas filhas, que são o amor da minha vida e sofrem em silêncio por mim, mas não nos deixamos abater, vivendo nossas vidas normalmente.
Gosto de passear, ir a praia e serestas. Sou uma pessoa feliz apesar de minhas limitações.
Nós, portadores, somos dignos de respeito e temos o direito de viver com dignidade junto aos que amamos na família e na sociedade, assim temos também o dever de respeitar o outro. Não devemos contaminar, sabemos os nossos limites e prevenção, nem odiar a quem nos contaminou, porque o ódio que se guarda, só vai matando a quem sente. Vamos lutar pela vida porque Deus é amor. Obrigada Jesus, nós confiamos em vós. Amém
Texto de David Felipe